As doenças
cardiovasculares são as principais causas de morbidade e mortalidade em todo o
mundo. Já está bem estabelecido que mudanças no estilo de vida, incluindo
hábitos alimentares saudáveis, exercem um papel fundamental na prevenção e
tratamento dessas doenças (1). Nesse sentido tem sido estudada a eficácia do
consumo de fitoesteróis sobre a promoção da saúde cardiovascular.
Os fitoesteróis, compostos
naturais encontrados em óleos vegetais, frutas, legumes e cereais são
estruturalmente similares ao colesterol e são considerados seguros e eficazes
para beneficiar a saúde cardiovascular. Um dos mecanismos propostos para explicar
essa relação é a redução do nível sanguíneo de colesterol total pelo fato dos
fitoesteróis competirem com a absorção do colesterol da luz intestinal (2-4).
A hipercolesterolemia, mas
principalmente a concentração elevada de lipoproteína de baixa densidade (LDL),
é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Assim, reduzir a concentração plasmática de LDL se torna importante para
diminuir o risco do desenvolvimento de aterosclerose e doenças cardiovasculares
(2).
Em estudo clínico,
randomizado e duplo cego foram recrutados 49 adultos (32 mulheres, 17 homens)
com hipercolesterolemia. Os indivíduos foram separados em dois grupos: estudo,
em que os participantes consumiram duas barras de chocolate escuro por dia
contendo flavonóides e 1,1g de fitoesteróis e o grupo controle, sem
fitoesteróis. Após 8 semanas, os pesquisadores observaram que o consumo regular
de fitoesteróis reduziu significativamente (p<0,005) o nível sérico de
colesterol total (2%), de LDL (5,3%) e da pressão arterial sistólica (-5,8 mm
Hg). Os autores concluíram que o consumo diário de chocolate contendo
fitoesteróis e flavonóides do cacau associado a uma dieta com baixo teor de
gordura pode promover a saúde cardiovascular (2).
Em outro estudo
randomizado publicado em 2011, 24 pacientes com síndrome metabólica e
hipercolesterolemia moderada foram submetidos à intervenção dietética por 3
meses da adição (n=14) ou não (n=10) de 2g/dia de fitoesteróis na alimentação.
O grupo controle, composto por 24 pacientes com hipercolesterolemia moderada,
porém sem apresentar síndrome metabólica, foram submetidos às mesmas
intervenções. Após o período de intervenção, o perfil das lipoproteínas séricas
foi mensurado. O tratamento dietético e a inclusão de fitoesteróis na dieta não
produziu melhoria no perfil das lipoproteínas séricas dos indivíduos com
síndrome metabólica, entretanto nos pacientes sem síndrome metabólica a dieta
com a ingestão de fitoesteróis foi capaz de reduzir as concentrações de
colesterol total, LDL e apolipoproteína B (Apo B) (5).
Na pesquisa randomizada de
Lerman e colaboradores foram incluídos 24 adultos com síndrome metabólica e com
LDL ≥160mg/dL, que foram divididos em dois grupos sendo: controle (n=12)
constituído por indivíduos que foram orientados a consumir uma dieta do estilo
mediterrâneo com baixa carga glicêmica; e o grupo tratamento (n=12), que
recebeu uma dieta fitoquímica aprimorada, constituída por proteína de soja,
fitoesteróis e nutracêuticos. Todos os indivíduos receberam orientações quanto
à prática de exercícios aeróbios. Após 12 semanas, o grupo tratamento
apresentou melhora significativa na concentração plasmática de colesterol
total, LDL, na lipoproteína de alta densidade (HDL), Apo B e homocisteína. Os
autores concluíram que uma dieta contendo soja e fitoesteróis e mudanças no
estilo de vida reduzem os riscos do desenvolvimento de doenças cardiovasculares
(6).
A metanálise publicada em
2006 na revista Journal of the American College of Nutrition comprovou
os efeitos dos fitoesteróis na redução da concentração plasmática de colesterol
total e LDL em indivíduos com hipercolesterolemia familiar. Os pesquisadores
observaram que indivíduos que apresentavam hipercolesterolemia familiar e que
consumiram 2,3 ± 0,5g de fitoesteróis/estanóis por dia tiveram redução
significativa (p<0,005) da concentração plasmática de colesterol total em
0,65mmol/L e de LDL em 0,64 mmol/L. Não foram observadas modificações na
concentração plasmática de HDL e triglicérides (7).
A eficácia do uso de
fitoesteróis é reconhecida atualmente por entidades nacionais e internacionais,
como a Sociedade Brasileira de Cardiologia, que recomenda a ingestão de 2 g/dia
de fitosteróis para a redução média de 10-15% do LDL. Segundo a referida
Sociedade, uma dieta balanceada com quantidades adequadas de vegetais fornece
aproximadamente 200 a 400 mg de fitosteróis (8). Por isso, dependendo da
quantidade desse composto consumido na alimentação, a suplementação pode
complementar a necessidade diária recomendada.
Assim, conclui-se que
associar o consumo de fitoesteróis a uma dieta equilibrada e estilo de vida
adequado pode oferecer um complemento eficaz para promover a saúde
cardiovascular.
Thiago Manzoni Jacintho
Docente da Universidade
Nove de Julho - Diretoria da Saúde - Cursos de Farmácia e Bioquímica. Mestre em
Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Biólogo pela
Universidade de Mogi das Cruzes
Referências:
1. De Smet E, Mensink RP,
Plat J. Effects of plant sterols and stanols on intestinal cholesterol
metabolism: suggested mechanisms from past to present. Mol Nutr Food Res. 2012
Jul;56(7):1058-72.
2. Allen RR, Carson L,
Kwik-Uribe C, Evans EM, Erdman JW Jr. Daily consumption of a dark chocolate
containing flavanols and added sterol esters affects cardiovascular risk
factors in a normotensive population with elevated cholesterol. J Nutr. 2008
Apr;138(4):725-31.
3. Laitinen K, Gylling H.
Dose-dependent LDL-cholesterol lowering effect by plant stanol ester
consumption: clinical evidence. Lipids Health Dis. 2012 Oct 22;11:140.
4. Plat J, Mackay D,
Baumgartner S, Clifton PM, Gylling H, Jones PJ. Progress and prospective of
plant sterol and plant stanol research: report of the Maastricht meeting.
Atherosclerosis. 2012 Dec;225(2):521-33.
5. Hernández-Mijares A,
Bañuls C, Jover A, Solá E, Bellod L, Martínez-Triguero ML, Lagarda MJ, Víctor
VM, Rocha M. Low intestinal cholesterol absorption is associated with a reduced
efficacy of phytosterol esters as hypolipemic agents in patients with metabolic
syndrome. Clin Nutr. 2011 Oct;30(5):604-9.
6. Lerman RH, Minich DM,
Darland G, Lamb JJ, Chang JL, Hsi A, Bland JS, Tripp ML. Subjects with elevated
LDL cholesterol and metabolic syndrome benefit from supplementation with soy
protein, phytosterols, hops rho iso-alpha acids, and Acacia nilotica
proanthocyanidins. J Clin Lipidol. 2010 Jan-Feb;4(1):59-68.